O poder criativo e criador da arte

O poder criativo e criador da arte




O mundo precisa de arte!  O mundo precisa de arte... O mundo precisa de arte?  A sentença pode ser dita destas três formas, a afirmativa, a subjetiva e a interrogativa ao mesmo tempo e, nas suas três formas, suscitar inquietações igualmente válidas e relevantes para o nosso mundo na atualidade.
Por que se dá esse fenômeno?  Porque a modernidade líquida como dizia Bauman, repleta de “massacres e assassinatos recíprocos, do tipo hoje visto entre sunitas e xiitas no Iraque (...)visto ontem mesmo entre sérvios, croatas, bósnios e muçulmanos do Kosovo (...) um ciclo aparentemente interminável de retaliações assassinas, (...)” não quer sensibilidade, não quer poética, não quer suavidade...  À edição original inglesa de 2008 do livro A Arte da Vida do filósofo Zygmunt Bauman podemos acrescentar todos os horrores da guerra da Síria com massacres entre rebeldes e governo ditatorial quase que ininterruptos hoje em dia.  O terror do Estado Islâmico também ataca impiedosamente, sem rosto, em caminhões usados como armas contra a população civil, indiscriminadamente; quando não se utiliza de meios mais sofisticados como bombas e armas de fogo. 
Também por outros motivos.  Porque na contemporaneidade artistas como Robert Rauschenberg, coloca à venda folhas de papel cujo conteúdo são desenhos feitos no passado por De Kooning (famoso artista norte-americano) dos quais ele havia eliminado quase todos os traços à lápis.  As marcas do apagamento eram as marcas artísticas com as quais se dava uma especulação bem-sucedida através de uma... obra de arte...!?!!?
E daí?  Daí que as marcas da modernidade, como assim eram chamadas pelos eruditos críticos de arte do passado, hoje almejam desaparecer, o efêmero transformou-se na aclamação maior, o passageiro, aquilo que não permanece...
Mas há implicações bem concretas desta realidade no nosso dia-a-dia... A ética, a moral, a bondade, a compaixão parecem ter sido realmente apagadas da existência.  Tem-se medo de ser virtuoso em muitos momentos e isto vai além de qualquer moralismo; é um fato. E o que ressurgiu disto não dá conta de transcender, de transformar e nem, muitas vezes, de dialogar com os aspectos concretos do que ocorre hoje.  Muitos afirmarão que o próprio Friedrich Nietzche (1844-1900)já dizia que “Só a música doentia dá dinheiro hoje.” E na época dele não existiam os batidões de funk, por exemplo...  Pelo menos não da forma como conhecemos em nossos tempos...
Nem todo expressionismo abstrato, nem todo método de trabalho colaborativo experimental de pintura, nem toda encenação ou filmagem de evento artístico podem dar conta da nossa real falta de paradigma, referência e/ou modelo atuais... Talvez, e muito provavelmente, seja uma qualidade da nossa época e não um defeito.  Como dizia Krishnamurti, “a verdade é território inexplorado.” Mas se é uma qualidade, devemos ter em mente que a sensibilidade é objetiva e é por ela que se chega a uma verdadeira compaixão, um verdadeiro “pôr-se no lugar do outro”, um importar-se com o outro mais do que apropriar-se do outro como mercadoria, o que vem sendo feito há muito tempo pelo modo de produção capitalista em todas as suas vertentes neo-liberais de várias formas.
As trocas de mercado clássicas perderam muito de seu valor ou de sua objetividade palpável no que se refere à arte nos nossos dias. A própria definição de arte é reformulada e reestruturada várias vezes ao longo da história recente.  O que não pode e não deve se perder é o sensível, o poético, o sublime, a vivência do sentimento, o amor, sem os quais não somos humanos, somos apenas máquinas.  Sem os quais, o poder criativo e criador da arte não se estabelece.  Paz e luz.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Referências:
Bauman, Zygmunt . A Arte da Vida . Editora Zahar . Rio de Janeiro, 2009.
Mattick, Paul; Siegel, Katy . Arte & Dinheiro . Editora Zahar . Rio de Janeiro, 2010.



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