"Imagine", do John Lennon, é um lixo




Sejamos francos: tem algo naquela música que seja verdadeiramente bom, ou vamos continuar seguindo a modinha?








Há algumas “vacas sagradas” que ganham autoridade imediata no imaginário coletivo, esta coisa tão bem trabalhada pela sociologia, pelas Letras, pelo jornalismo.
Quando Ayrton Senna, no auge da fama,
ligou para Juca Kfouri, então diretor da revista Playboy, para tentar
impedir que algumas fotos de Adriane Galisteu, que já havia posado para a
revista, viessem a público e o Brasil inteiro conhecesse Galisteu
biblicamente junto ao tricampeão mundial de Fórmula 1, ouviu como
resposta:
– Ayrton, o Pelé, o dom Paulo Evaristo
Arns, o Chico Buarque e você não pedem favor. Vocês mandam! Vocês são as
únicas razões de alegria para o Brasil…
(história narrada no livro Ayrton: O herói revelado, de Ernesto Rodrigues)
Assim era Ayrton, assim foi Pelé, assim é
Chico Buarque (ou era, antes do fracasso do PT). Assim é, no mundo,
John Lennon. Não à toa, todos seres humanos pavorosos para quem os
conheceu de perto.
Considerado
por alguns idosos como o músico mais importante do mundo por ter sido o
líder dos Beatles, John Lennon tem sua validade dada como
inquestionável. E por que é inquestionável? Porque é líder dos Beatles. O
cara “mais famoso do que Jesus Cristo” vive dessa retroalimentação de
que todos devem “respeitar” os Beatles por serem grandes, e que são
grandes porque merecem respeito, sem que a humanidade pareça muito ávida
de escapar deste moto perpetuo das celebridades famosas por serem famosas.
Mas sejamos francos: sua música Imagine é um lixo. Bem, todas as suas músicas são, mas foquemos apenas em Imagine. E é ela que é tocada pra tudo quanto é lado assim que algo violento ocorre no mundo.
Foi tocada num piano em Paris. Foi
tocada por Eddie Vader e Coldplay em suas recentes apresentações. Deve
estar sendo tocada em tudo quanto é rádio e show de banda ruim que vive
de cobrar couvert de pessoas querendo almoçar e tendo de
enfrentar algum desafinado sem perícia técnica para ser borracheiro
gritando mais alto do que a voz normal das pessoas durante uma refeição.
Nem comentemos sua estrutura rítmica risível (só comparável ao “dó-ré, dó-ré, dó-ré-mi-fa” de Que país é esse?). Qualquer criança com meia hora de aula de piano é capaz de tocar Imagine
inteirinha sem erros, mas basta que seja o John Lennon para todos
dizerem: “Oh, mas é a música que marcou todo o mundo!”, como se Ai se eu te pego do Michel Teló não tivesse feito o mesmo décadas depois do rei do “iê-iê-iê”.
O problema é que, além de ser uma música “linda” apenas por repetir duas notas óbvias ad nauseam,
sua letra é, na mais franca das hipóteses, de uma masturbação mental
adolescente de matar de vergonha qualquer pessoa vacinada, alistada, com
alguma obrigação na vida e com contas a pagar.
E isto é considerado um “hino da paz”
por qualquer um que aja 102% do seu tempo em desacordo com a música (os
únicos que podem agir de acordo com ela são mendigos, hippies e
terroristas). Só por ser aquela música que diz “Imagine o mundo inteiro
vivendo em paz” para pessoas que se odeiam dançarem juntinhas fazendo
sinal de paz e amor se não precisarem conversar entre si, e apenas
repetir roboticamente o hino lobotomizado do sr. Lennon enquanto molham
as calcinhas.
Como a cena retratada por André Barcinski após o show de Paul McCartney em 2010: “E
quem, meia hora antes, cantava ‘Give Peace a Chance’, não mostra
escrúpulos em correr na frente de um casal de idosos para pegar a
primeira condução.”
South-Park-hippies 

Como já dissemos aqui, tais músicas ultra-populares, da dor-de-corno ao hip hop, da MPB à música de cópula e hedonismo grupal, são meras generalizações extremas.
Dizer: “Como seria lindo se todo mundo vivesse em paz” é generalizar o
mundo inteiro, como se todo mundo fosse concordar sempre, fosse se
tornar feliz forever, como se para a vida ser um mar de rosas
bastasse se encaixar no plano global de “paz e amor, bicho”. Como se não
houvesse mais vida a ser vivida, chegássemos no “fim da História” de
Hegel e Fukuyama,
como se a humanidade atingisse um plano global em que tudo se encaixa
perfeitamente, sem dialética interna, sem conflito algum, sem nada a
atrapalhar nossa felicidade. Como se virássemos meras engrenagens numa
grande máquina social.
Felizmente, a vida tem tristezas. Até o filme Divertidamente
sabe disso. Não é um mundo feito, uma existência sem aventura, sem
nenhum conflito entre vontade e responsabilidade. Não vivemos em uma
realidade em que basta dizer “Imagine um mundo sem ganância e fome” para
estarmos bem alimentados e a louça estar lavada e guardada.
Quem seguiu a regra desta musiquinha
soporífera, brega e analfabeta foram Stalin, Pol-Pot, Mao Zedong, Kim
Il-sung, Napoleão Bonaparte, Enver Hoxha, Nicolae Ceaușescu, Slobodan
Milošević, Adolf Hitler e toda sorte de totalitário genocida que pensou
que o mundo realmente ficaria lindo sem uma ordem religiosa, sem céu e
nem inferno, que não precisávamos mais desta coisa restritora que são
“países” (está vendo aquele monte de refugiados vindo no horizonte?),
que bastava abolir a propriedade privada e a religião para se criar a
“Irmandade dos homens” e “todas as pessoas viverem a vida em paz”.
Não lembro onde achei a imagem. Imagine um mundo sem direitos autorais?
Não lembro onde achei a imagem. Imagine um mundo sem direitos autorais?

É este o mundo “without possessions”.
Sem propriedade privada, você pode pegar tudo o que seu vizinho tem e
trabalhou para ter, e pronto. Todos vivem em paz. Talvez seu vizinho
fique meio irritado alguma hora e pare de trabalhar, mas sempre haverá
outro vizinho. E assim por diante. Até que todos estarão comendo casca
de árvore, como os camponeses sob o socialismo de propriedade coletiva
de Mao Zedong, que chegaram a morrer de fome na proporção de mais
de 5 milhões por ano. E quem não se lembra da fábrica do “de cada um
conforme suas habilidades, a cada um conforme suas necessidades” de Ayn
Rand em A Revolta de Atlas?
John Lennon desafia: “Imagine todas as
pessoas vivendo pelo dia de hoje”. Olha, é muito fácil imaginar: todo
mundo numa puta suruba, fumando pentelho, sem responsabilidade alguma,
chafurdando no próprio vômito, refastelando-se em gastar o mundo,
torrando indiscriminadamente tudo o que vê pela frente “sem
fronteiras”, como se a vida fosse uma grande república adolescente.
É o velho clichê: “Pra que levar a vida a sério, se você não vai sair vivo dela mesmo?” E a resposta é muito óbvia: porque eu preciso pagar as minhas contas.
Porque o dia de amanhã chega, e essa zona e cheiro de vômito de whisky e
a privada do banheiro entupida não vão se limpar sozinhas (já tentei
cantar Imagine para elas, o resultado foi nulo). Porque o
médico que vai te salvar de ter uma overdose de cocaína aspirada
analmente só consegue te salvar se ele próprio não tiver vivido apenas
para o dia de hoje ontem. Porque viver para o dia de hoje é o que
político faz todo santo dia com nossos impostos.
É exatamente o que Lennon prega com este
“Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo”. Nunca ocorreu
alguém perguntar ao sr. João Lennon por que ele não compartilhou uma
porcaria dos royalties de suas musiquinhas com nosotros,
a humanidade rés-do-chão, o povo que pega ônibus e desce nas bocada, as
pessoas que vivem de algo mais do que cantar para multidões basbaques
desmioladas.
peace-love-world-peaceO
que John Lennon quer dizer é: “Imagine um mundo em que todos concordam
comigo”, e aí descreve seu paraíso na terra. Com as generalizações
gigantescas “all the people” e “the world”, Lennon faz mesmo com que todas as pessoas que o ouçam achem que a música é feita para cada um deles, pessoalmente. Esquecem-se
de que, fora de palavras lindas e sem sentido concreto como “a paz
mundial”, a pia de louça continua suja e alguém vai ter de lavá-la. Que
Lennon estava se lixando para nós. Que as pessoas são diferentes, e eu
quero a liberdade de ser diferente e discordar de você, do John Lennon,
do Chico Buarque ou do Evaristo Arns. E que eu quero vaca sagrada no
formato bife Angus ao ponto da casa, enquanto você caiu no papinho
vegetariano do Paul McCartney. E aí, como é que fica a paz e o live as one?
Aliás, por que Lennon prega este mundo
perfeito, em palavras abstratas e ocas, mas não conseguiu manter
relações de paz nem com outro pacifista mais chato do que cagar de
macacão, o senhor Paul McCartney? Não é curioso como nem Lennon consegue
seguir nem meia das suas frases, que prometem ser o hino de paz na
humanidade?
Discordar é um direito fundamental do homem. “The world live as one”,
como quer o sr. Lennon, é seguir um planejamento prévio de algum
totalitário querendo mandar nas minhas sinapses para não escapar de seu
esquematismo de “vida feliz para todo mundo”. Como se alguém pudesse
saber mais do que quero e do que me faz feliz do que eu mesmo (comecem
jogando essa música no esgoto). Como se as pessoas fossem parar de
empacar do lado esquerdo das escadas rolantes, ouvir funk no busão ou
votar no PT simplesmente se eu dissesse: “Imagine todos nós vivendo em
paz!”
Imagine um mundo em que você não tenha visto a BENGA do John Lennon
Imagine um mundo em que você não tenha visto a BENGA do John Lennon

Preencha o esquematismo oco (os velhos clichês que herdamos do Iluminismo)
de Lennon com alguma substância, como por exemplo o que você pensa, e
todo o seu delicado castelo de cartas volta a ser o que é: a repetição
no piano dos acordes dó e fá até alguém surtar e te dar um tiro. E nem
quis fazer referência ao que realmente aconteceu na vida de Lennon.
Também não é curioso como estes que
sempre pedem a paz têm as vidas mais longe da paz de uma velhinha que
faz bolo pros seus netinhos porque é 102% tradição, família e
propriedade privada? Lennon tentava passar a perna até nos seus
companheiros de banda, batia em mulher, chafurdava em heroína enquanto
ignorava os filhos (seu filho considerava McCartney mais pai do que
ele), era ególatra e mentiroso compulsivo, era um burguezinho que se
dizia proletário, dava dinheiro para os assassinos dos Black Panthers. Ou, como diz Imagine, “Nothing to kill or die for”.
Isto para não falar de quem realmente
agüentava Lennon, como sua porra-louquíssima Yoko Ono, capaz de, após
sessão de fotos e toda a pompa e circunstância de um mundo cheio de
posses e desigualdade entre seres humanos, pegar um microfone para
berrar por 2 minutos numa exposição de arte moderna para receber uma
carrada de aplausos por sua genialidade. Quem não ouviu, que ouça.
Preferencialmente se souber que só tem 2 minutos de vida: serão os 2
minutos mais longos de sua curta passagem por este Vale de Lágrimas:
Hoje muitos jovens de país que tiveram
os Beatles como referência adoram achar que a Inglaterra é o máximo por
ter nos dado os Beatles. Falta notar que tudo o que é bom na terra de
Sua Majestade era rejeitado pelos Beatles: monarquia, bons modos, civilidade aristocrática, gentileza tradicionalista dos gentlemen, o individualismo que permite a noção de fronteira da cultura anglo-saxã.
Lennon e seus maloqueiros de Liverpool
queriam bagunça, jeitinho, tratavam maconha como causa política,
adotavam qualquer religião (!) como verdade suprema, desde que fosse
exótica e cheirasse mal, eram hipócritas e davam sorrisos pela frente e
facada pelas costas, odiavam o capitalismo e enriqueciam por ele.
Queriam que a Inglaterra fosse exatamente como o Brasil, diga-se. É
melhor usar nossa bandeira para se referir aos Beatles, e não a gloriosa
cruz que representa as ilhas de nossa gloriosa Rainha.
iron maiden england 

Uma
infância muito mais saudável e uma noção de mundo muito melhor, mais
complexa e aventureira, está em quem buscou na Inglaterra outra
referência, como os conservadores e aristocráticos do Iron Maiden.
Estes sim sabem colocar Shakespeare, G. K. Chesterton, Samuel Taylor
Coleridge, Gaston Leroux, Edgar Allan Poe, Frank Herbert, William
Golding, Alfred Tennyson, John Wyndham e até um Aldous Huxley em suas
letras – além, é claro, da Bíblia.
Estes sabem que o homem possui bem e mal
dentro de si e que precisam enfrentá-los no mundo, e que sempre assim
será (é isso que reclamam nos “fanáticos obscurantistas religiosos”, sem
perceber que é desnecessário ser qualquer uma dessas coisas para saber
disso – apenas é impossível saber disso e ser de esquerda ao mesmo
tempo).
Estes são os bem-aventurados:
aqueles que têm uma aventura, uma missão diante de si. Que sabem que a
vida possui inimigos. Responsabilidades. Valores frágeis a serem
defendidos, que são muito mais facilmente destruídos do que
reconstruídos. Por isto são conservadores. Ao invés de crer que a vida é “living for today” e
criar um plano “sem propriedades e países” em que todos terão
completado a aventura do ser humano e vão apenas viver à base de maconha
e discursos genéricos no violão, tratam de tornar a dificuldade da vida
algo que faça sentido e tenha beleza, ao invés de negá-las em prol de “um mundo em que todo mundo concorda”.
A vida para o fã de Iron Maiden é
defender o bem. Para o beatlemaníaco, é fazer sarau e esperar que algum
trouxa pague as suas contas.
Pessoas que crescem ouvindo Iron Maiden
sabem da aventura que é viver. Pessoas que crescem tendo como
referências John Lennon, Beatles, Chico Buarque, Paulo Evaristo Arns e
Ayrton Senna crescem pedindo paz e tolerância e votando em defensores do
MST e do Estado Islâmico para cuidar dos obscurantistas. Ou viram
comentaristas de política achando que gritar “democracia” e “religião
pacífica” é a solução para o mundo. Prefira quem sabe o valor
inestimável que tem a aventura da vida.
Up the irons! \m/


Sobre Flavio Morgenstern
Flavio Morgenstern é analista político,
escritor e tradutor. É autor do livro "Por trás da máscara: do passe
livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil"
[http://bit.ly/1diPiPz]. Siga no Twitter: @flaviomorgen




fonte:

"Imagine", do John Lennon, é um lixo - Senso Incomum

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