Dizer que o brasileiro não lê é, na verdade, coisa de quem… não lê





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Os brasileiros começaram a ler.
Falta começar a mudar o discurso. Em vez de reclamar dos brasileiros que
não leem, os brasileiros que leem deveriam se esforçar para espalhar o
hábito da leitura. Espalhar clichês pessimistas não vai fazer ninguém
abrir um livro. 
Eu poderia ter repetido tudo isso para
cada pessoa de quem ouvi a mesma frase feita. Mas resolvi escrever,
porque acredito que o brasileiro lê. “
 (Danilo Venticinque)
 Dizem que o brasileiro não lê. Já ouvi isso
muitas e muitas vezes e confesso que eu era daquelas que realmente
acreditava nisso. Estamos tendo uma mudança sobre a nova forma de ler, a
leitura tradicional e a leitura digital. O formato digital fez com que
mais pessoas tivessem acesso ao hábito de ler. Não podemos esquecer
também que as adaptações de obras literárias feitas para a televisão e
cinema também colabora com o aumento do hábito de ler. E alguém aqui vai
negar que isso seja bom? Não estamos neste momento, falando de
“qualidade de leitura”, tema que gera comentários de amor e ódio,
estamos falando simplesmente do hábito de leitura, sem distinções de
literatura boa ou ruim.
“O Brasileiro não lê”… Vendo sob a ótica da
comparação com outros países, sim, nós lemos muito pouco. Claro que
existem os brasileiros que devoram livros, sendo a média de leitura
igual à de países cuja média de livros lidos por ano é de cerca de 10
livros ao ano. Na França, por exemplo, a média de livros lidos é de 11 a
25 livros ao ano. Estamos longe de ser um país de leitores? Sim, ainda
temos muito o que crescer neste quesito.  Vamos lá, entender essa ótica.
Em março do ano passado tivemos a 3ª edição da pesquisa “Retratos de
Leitura do Brasil”. Através de 5 mil entrevistas em 315 municípios,
divididos entre os estados, a pesquisa revelou que o brasileiro lê 4
livros ao ano, sendo que termina apenas 2 livros. Ainda de acordo com a
pesquisa, metade da população, compreendendo 88,2 milhões de pessoas, é,
de fato, considerada leitora, e como parâmetro, o “Instituto Pró-Livro”
levou em conta que se tenha lido pelo menos um livro nos últimos três
meses. Tendo uma análise por região, a Centro-Oeste foi a que teve a
melhor média de livros lidos. Em seguida, temos o Nordeste, Sudeste, Sul
e Norte.  De acordo com a pesquisa, as mulheres leem mais que os
homens, sendo 53% delas e 43% de homens.
O que nós temos de incentivo para que
possamos ler mais? Temos muitos lugares em nosso país, que simplesmente
os livros não chegam. Temos bibliotecas com livros em estado precário,
sem renovação de títulos antigos e em más condições de manuseio ou
livros novos, daqueles que estão em lançamentos no mercado editorial. A
falta de “novidades” também influencia a ida de uma pessoa a uma
biblioteca.
Eu conheço gente que quando eu estava no
colegial, a primeira leitura realizada foram os tão “malfalados” livros
de “LEITURA OBRIGATÓRIA”. Aí a pessoa não lia o livro, pegava o resumo
na internet. Eram “livros chatos, de leitura cansativa”, definição que a
grande maioria lança sobre as leituras obrigatórias. E sobre este
assunto, Zoara Failla, a socióloga que comanda a pesquisa do Instituto
Pró-Livro diz:
Os professores costumam indicar livros
clássicos do século 19, maravilhosos, mas que não são adequados a um
jovem de 15 anos, apresentado só a obras que considera chatas, ele não
busca mais o livro depois que sai do colégio.”
Apesar de nossa média anual ser tão baixa, como apoia na pesquisa, basta vermos o quão grande é o “boom” do
mercado editorial. Comparando  com o ano de 2009, a partir de 2010
tivemos um aumento de 23% na venda de livros. Falando de livros
acadêmicos, a média é de 1,8, contra 10 obras lidas nos países de
primeiro mundo. As editoras brasileiras publicaram em média cerca de 500
milhões de livros. Será que estamos produzindo livros para leitores que
não existem? Ainda temos livros caros nas estantes e tenho amigos em
outros países que sempre questionam o porquê dos livros serem tão caros
no Brasil. De 2011 para cá, tivemos um aumento de 12,46%  no preço dos
livros. Na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, foram registradas uma
média de 6,4 livros POR PESSOA que visitou o evento, que teve
faturamento de R$71 milhões (um milhão A MAIS do que a edição anterior) e
recebeu cerca de 660 mil pessoas. Cada visitante pagou em média, cerca
de R$20 cada exemplar levado do evento.  Será que somos mesmo uma nação
que não lê? O Brasil possui, aproximadamente, 2500 livrarias. Nossas
bibliotecas ainda são precárias e muitas delas estão apenas no papel.
Zoara avalia o resultado sobre a frequência de visitas a bibliotecas,
dado o resultado alarmante de 75% da população nunca ter frequentado uma
biblioteca.
Dois em cada três entrevistados disseram
não frequentar bibliotecas. E a maioria dos que frequentam o fazem para
trabalhos escolares. Ir a bibliotecas não faz parte da nossa cultura.
Além disso, as bibliotecas não modernizaram seus conceitos. Por exemplo,
exige-se silêncio, há muita burocracia, a catalogação é complicada e o
atendimento é inadequado. Tudo vai contra ao que a criança e o jovem
gostam. É preciso que as bibliotecas criem espaços para eventos e
atividades culturais, permitam que o visitante acesse as mídias digitais
e, principalmente, que possuam pessoas capacitadas para atender ao
público. Não basta ter atendentes, é preciso ter mediadores de leituras,
especialistas que indiquem livros de acordo com cada perfil, que saiba
entender o visitante, que apresente livros interessantes, que realmente
desperte o interesse pela leitura.”
Para a maior parte dos brasileiros, o preço
dos livros ainda é caro, apesar de vermos muitas edições mais
econômicas, como as “edições de bolso”, como as da editora L&PM. E
também temos os sebos de livros, com exemplares a um preço acessível.
Agora fica a pergunta: “Não lemos por preguiça ou realmente por falta de
incentivo? Podemos ter livros de graça, mas se não tivermos o incentivo
da leitura acaba sendo apenas mais um exemplar na estante. Segundo a
pesquisa, apesar de o brasileiro ler, ainda não somos um país de
leitores, pois nosso índice de livros lidos a cada três meses é muito
baixo, comparado a outros países. Poderíamos explicar que ainda não
somos um país de leitores devido ao fato de que 14 milhões de
brasileiros, com idade acima de 15 anos, ainda não sabe ler e, além do
analfabetismo, temos a situação crítica do analfabetismo funcional, que
são as pessoas que leem, escrevem, mas não sabem interpretar um texto. E
o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), no quesito educação? Nós
subimos de índice, considerando 1991 (0,279), para 0,637, em 2010. Mas
ainda não é o suficiente.
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Hoje, a juventude está “puxando” o hábito
de ler. Eu observo que hoje ela está lendo mais no que na minha época
quando eu tinha 15 anos. Isso é um ponto excelente, pois quando já temos
um hábito de leitura desde jovens, dificilmente abandonamos o hábito
quando adultos. É muito mais fácil transformar um jovem em um leitor, do
que um adulto em leitor. E muito deste hábito, vem do berço, pois
pessoas cujos pais leem ou incentivam a leitura, levam o hábito junto.
Leitura também é uma herança familiar. Desconheço casos de leitores que
não foram incentivados pela família. Outro papel importante neste hábito
é o professor, que deve incentivar a leitura além dos clássicos, além
da “obrigatoriedade” de saber distinguir os períodos literários, os
leitores e suas obras. É essencial ir além de “Dom Casmurro”, “Iracema”,
entre outros clássicos tidos como massantes, até porque se a pessoa não
possui o hábito de ler, a leitura de um livro complexo, por mais que o
enredo seja excelente, não será a mesma experiência daquele que tem o
hábito de ler, pois a pessoa que lê com mais frequência possui melhor
capacidade de interpretação de texto do que aquele que lê apenas por
obrigação. E o hábito de leitura não tem hora nem lugar, podemos ler no
ônibus, nas filas, antes de dormir, num parque, na tela do celular,
tablet. Não há limitações para a leitura e ela é bem-vinda, independente
de qualidade ou não. É muito melhor ler um livro ruim do que não ler
nada, até porque com o tempo, a leitura nos ensina a buscar cada vez
mais a qualidade, afinal, quem aqui nunca leu um livro ruim? E a leitura
não está apenas nos livros, temos de considerar jornais e revistas.
Recomendo a leitura do excelente texto do
Danilo Venticinque, colunista do site da revista Época. Intitulado de “O
Brasileiro não lê”, ele nos traz um belo retrato do quanto realmente
isso é apenas uma falácia. Podemos não ler tanto quanto os europeus, mas
afirmar que NÃO lemos é uma inverdade vergonhosa e  “burra” de se
dizer. Em 2006, a revista britânica “The Economist” falou sobre o baixo
índice de leitura no Brasil, intitulando o fato como “Um país de
não-leitores”. Naquele mesmo ano o governo brasileiro criou o “Plano
Nacional de Livros e Leitura” para mudar essa visão. Com isso, através
de ONGs, foram instaladas bibliotecas circulantes entre outras ações
sociais de incentivo à leitura. Pelo aumento da venda de livros e o boom do mercado editorial, podemos dizer que a iniciativa está nos trazendo resultados.
Abaixo, temos uma série de infográficos sobre a pesquisa do “Instituto Pró-Livro”. Para quem se interessar mais, neste link, aqui , temos o relatório da pesquisa realizada pelo instituto.
Para fechar o texto, perguntei para as
pessoas de minha rede social, qual a opinião delas sobre essa falácia.
Somos realmente um país de não-leitores? O que acham dos preços dos
livros no país? E você? Qual a sua opinião? Deixe nos comentários!
Bom, eu acho que de certa forma isso de
que o brasileiro não lê, tem um ponto de verdade. Eu tenho 14 anos, e
estou no 9º ano, e em diversos trabalhos literários que a minha
professora passa, são poucos os alunos que leem os livros e eu escuto
muito deles falando: ‘Ah, pra que lê?! Tem o resumo na internet’’. Acho
isso a maior ignorância do ser humano. Ler esses livros que os
professores passam não são meus preferidos, mas não me arrependo de
nenhum que eu li até hoje, todos foram ótimos. Acho que tudo isso é por
pura falta de incentivo, tanto de casa quanto da escola. (Minha mãe
nunca gostou de ler, então ela nunca teve essa coisa de me incentivar,
meu incentivo a leitura veio de uma forma meio diferente do que
geralmente vemos, Minha professora da 4º série, sempre que a turma
estava fazendo algo e ela estava ”atoa” ela ficava lendo um livro, um
dia ela começou a contar a história de “A Cabana” e  eu adorei, mas teve
alguns acasos e ela acabou não terminado de contar a história e fiquei
com uma curiosidade imensa de saber o que aconteceria com os
personagens, sempre fui muito curiosa, então eu tive a curiosidade de
ler esse livro, e foi um dos motivos que me apaixonei pela literatura.
Bom, eu comecei a ler por um “incentivo” meio oculto da professora, por
causa dela eu comecei a gostar de ler, e estou hoje nesse paraíso dos
livros.
 O Brasileiro não lê de certa forma é uma
grande mentira, nessa semana da Bienal , eu vi por ai, todos os dias
aquilo lá lotado, se o Brasileiro não lê, eu não sei o que aquele monte
de gente estava fazendo lá, tentando entrar nos estandes, tentando pegar
autógrafos com Nicholas Sparks ou Emily Giffin. Se o Brasileiro não lê,
não sei porque vivo vendo diversos livros como esgotados nas livrarias
online, se o Brasileiro não lê, não sei o que são esses diversos blogs
literários que tem por ai, diversos grupos no facebook com mais de 10
mil pessoas neles, se o brasileiro não lê não sei o que são essas
coisas. De certa forma, o brasileiro não lê, tem se tornado uma grande
dúvida pra muitas pessoas, porque apesar do tempo moderno que vivemos,
ultimamente ando vendo muitas pessoas por ai com um livro na mão.”
(Camila Souza)
Eu sou apaixonada por livros, mas eu
fui instruída a ler desde o pré, sempre pela escola (escola particular a
vida toda). Já deram até livros de contos em inglês…. Mas o preço aqui é
totalmente abusivo, em qualquer outro lugar é bem mais barato!
Principalmente, se forem livros específicos como para estudo, o preço
aqui no Brasil parece ser mais alto ainda!” (Ellen Rocha)
Sobre os preços dos livros aqui no
Brasil, eu acho um pouco caro, mas não chega a ser inacessível, mas às
vezes, alguns livros estrangeiros que são traduzidos para o português
deixam a desejar nesse quesito, pois às vezes lá fora, o preço de um
livro de capa dura está com preço mais em conta que a tradução dele aqui
no Brasil em edição normal.
Quanto a essa falácia, na minha opinião,
quem diz isso é pessoa que não lê, pois não tem contato o bastante com
leitores para dizer isso. No Brasil há muitos leitores sim, a prova é
disso é que Eduardo Spohr, um escritor nacional, atingiu a marca de 600
mil livros vendidos, e a maioria desse leitores são brasileiros (se não
puder falar o nome dele, pode apagar essa parte). Eu como leitor (leitor
viciado em livros) pude descobrir pela internet pessoas de vários
cantos do Brasil que gostam de ler, mas não precisei ir muito longe,
sempre que eu aparecia com um livro na escola (estudei em escola
estadual no RJ), meus colegas me perguntavam sobre o que era o livro,
pediam emprestado quando eu acabasse de ler, etc. E é isso que me faz
crer que brasileiro gosta muito de ler”. (Daniel Pinheiro, 17 anos)
Acho que mesmo que os livros fossem
gratuitos, quem não gosta de ler continuaria sem ler. Mas agora, falando
sobre os preços, gostaria de dizer que acho um ROUBO cobrarem 40 reais
em um livro que custa 5 dólares em alguns lugares do mundo.” (Jonathan
Lucas)
Não gostava de ler até os 23 anos,
após conhecer um professor que abriu os meus olhos para a frente de um
livro, professor eu disse? Mas uma divindade em atrair para o incrível
mistério que é ler a confusão, a ansiedade, o escape da vida para um
mundo diferente onde se vê tudo com os olhos do livro lido, por isso a
leitura muda vidas. Incentivo! Essa é a palavra, deve-se mostrar o
quanto é bom ler, não obrigar a um estudante a ler, tem que ser um
prazer e não uma obrigação.” (Janine Sales)
Eu acho o valor dos livros em geral
bem legal se comparado a um DVD de filme ou um jogo de videogame, temos
os sebos para nossa alegria, e não podemos esquecer dos ebooks, Amazon
taí pra mostrar o quanto esse nicho está crescendo.” (Junio Rocha)
Essa frase de “brasileiro não lê” irá
perdurar até vermos metade das pessoas lendo em um coletivo. Ainda não
temos um país de leitores, mas sinto que o panorama está se tornando aos
poucos positivo para isso, principalmente em relação aos leitores mais
jovens. Agora, sobre o preço do livro, também os acho caros, mas
diminuir o preço também não ajudará se não houver estímulos culturais
para a formação de novos leitores.” (Luiz Fernando Teodósio)
Brasileiro que tem acesso, lê sim.
Basta ir em eventos como a bienal que fica lotado de leitores e até não
leitores (que mesmo assim acabam comprando algum livro). A respeito do
preço, os livros estão com um preço relativamente bom, em sua maioria
até 30 reais; uma pena que isso mudará em breve.” (Anastácia Ottoni)
“ Até escrevi uma matéria para o Causas baseada nessa pesquisa, segue a parte que corresponde:
A literatura acabou por ser dividida
em três ramos com a intensão de obter melhores resultados, sendo estes: a
literatura propriamente dita, histórias em quadrinhos e poesia.
Enquanto a maior parte da literatura que entra em contato com os alunos
acaba por fazer parte do currículo escolar, sendo transformada em meio
de avaliação, haverá pouquíssimo contato realizado de forma plena com
esta linguagem artística. Elisa Meirelles, em reportagem à revista Nova
Escola, traz a informação de que 45% da população brasileira não lê um
único livro por ano, sendo que a maior parte destes alega “não ter
interesse” ou “ter dificuldade”. Os estudantes mostraram resultados
mistos, tendo dezesseis alunos assinalando que têm algum contato, doze
revelando que possuem altos índices de apreciação e o restante mostrou
que possui pouco ou nenhum contato com a mesma.
Sobre a questão do preço só posso
dizer que a quantidade de promoções de livros que temos é imensa.
Conheço diversas páginas no facebook que fazem divulgação dessas
promoções e me fazem empobrecer todo mês. Ainda faço menção ao fato de
que literatura é sempre mais barata que não-literatura. Um livro de
técnica de arte, por exemplo, chega a R$ 120,00 enquanto obras, muitas
vezes consagradas, em suas edições de bolso ficam em torno de R$ 10,00
ou 15,00.” (Priscila E. Anderson)
Não acho que o livro seja algum
absurdo de preço, mas penso que é um mercado em remodelação desde o
surgimento dos e-books. Vai baixar de qualquer jeito. Sobre o brasileiro
não ler, não é bem assim. Ele lê, mas lê o que a mídia empurra ou o que
aprendeu na escola que é bom. O brasileiro é um povo arraigado a
valores antigos no que se refere à música e cultura. Em resumo: O
moderno não presta e não é lido. Agora a grande novidade são os “Teens”.
Essa galera que está movimentando o mercado agora sabe bem o que quer,
pensa diferente (e melhor que outras gerações moralistas e
ultrapassadas) e age diferente. Já o brasileiro de idade adulta lê sim,
mas lê movido a conceitos pré concebidos. A moçada nova não, eles leem o
que aparece pela frente. E Amém para isso!” (César Bravo)
 Revisado por Paloma Israely.


Fonte: literatortura





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