Cabeça de artista funciona de forma diferente, diz estudo


FREDERICO GOULART E MARIA CLARA SERRA

O artista plástico Alexandre Cavalcanti conta que, conta que desde pequeno mostrou particular aptidão para as artes.
Foto: / Foto Guito Moreto
O artista plástico Alexandre Cavalcanti conta que, conta que desde pequeno mostrou particular aptidão para as artes. / Foto Guito Moreto 
 
RIO - Muita gente comum acha difícil entender cabeça de artista. Talvez essa característica seja até um pré-requisito para fazer daquele “espaço” uma fonte de ideias e criações. À luz da ciência, entretanto, a explicação parece ser menos romântica e mais técnica: o cérebro dos “virtuosos” é simplesmente diferente. Foi isso que diz ter provado um novo estudo publicado esta semana na revista científica “NeuroImage”.

O resultado foi alcançado por meio de uma técnica recente de digitalização do órgão chamada morfometria baseada em voxel (MBV). A varredura mostrou que os artistas apresentam maior presença de substância neural em uma área responsável pelo bom desempenho motor e pela comunicação visual, o chamado precuneus, que fica no lobo parietal. Isso reforça a crença de que o talento dessas pessoas pode ser inato.

— O precuneus está relacionado a uma série de funções potencialmente ligadas à criatividade e à capacidade de manipulação de imagens visuais — afirmou à “BBC News” a cientista chefe do trabalho, Rebecca Chamberlain, que disse ter realizado o trabalho para tentar descobrir se os artistas de fato veem o mundo de maneira diferente.

Maior aptidão motora

O participantes também foram estimulados a realizar tarefas de desenho. Por meio dessas atividades, a equipe estudou a relação entre o desempenho e o estado das massas cinza e branca do cérebro. Notou-se que os voluntários que apresentaram mais habilidade tinham essas substâncias em formas aumentadas no cerebelo e na área motora suplementar, duas regiões que estão envolvidas com o bom controle motor e com a realização de ações de rotina.

Os resultado do estudo, porém, não é capaz de cravar que os aspectos que influenciam em um determinado talento artístico são totalmente inatos ou se podem ser adquiridos. Na visão do neurocientista Jorge Moll, presidente do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, exemplos de artistas que estão “fora da curva” apresentam forte relação das duas características.
— Qualquer habilidade de alta ordem, de alta complexidade, não pode ser explicada de modo simplista. Elas envolvem múltiplos sistemas cerebrais e cargas genéticas, mas também são fruto de muito treinamento — pondera.
O especialista também classificou o estudo como inovador, por usar a técnica de morfometria a fim de avaliar quantitativamente certas substâncias presentes no nosso cérebro.
— O trabalho não apresenta uma relação de causa e efeito, mas um aspecto correlacionador entre as características da estrutura cerebral e as habilidades. Os pesquisadores não descobriram, por exemplo, se essas características são fruto de alguma alteração ou se já acompanham as pessoas desde o nascimento.

Artista plástico e professor de arte no Colégio Bahiense, Alexandre Cavalcanti se formou em desenho industrial e fez mestrado em Belas Artes em Nova York. Ele conta que, em sua vida, desde pequeno mostrou particular aptidão para as artes:
— Nem me lembro de quando começou esse meu gosto. Só percebi que queria fazer da arte minha profissão quando, no vestibular, tive que decidir qual curso faria.
Hoje, Alexandre dá aulas de arte para crianças de 10 a 13 anos. Na sala, diz perceber claramente quando os pequenos demonstram talento para alguma habilidade.
— Podemos desenvolver alguma capacidade, mas dá para ver que alguns alunos têm mais aptidão, têm a mão mais solta. Mas também tem o lado criativo. Alguns são piores na habilidade, mas têm criatividade de sobra e podem compensar. Ou até mesmo seguir em outro caminho da arte que não o desenho — pondera.

‘Todos somos arteiros’

A designer e professora de desenho da PUC-Rio Marcela Carvalho acredita que as crianças sofrem uma hiperestimulação, o que pode prejudicar no desenvolvimento de suas habilidades para o futuro:
— Elas precisam da desopressão, do não estimulo, de um espaço de liberdade. A infância é criadora, todos são artistas. Então, o desenvolvimento da habilidade e do cérebro tem muito mais a ver com com o meio, o espaço onde se vai trabalhar aquilo. Não tem aquela expressão “esse menino está fazendo arte, é arteiro”? É isso mesmo. Todos nós somos.







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